quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Especial Garrincha 77 anos

Um dia como esse não poderia ter passado despercebido. Hoje, Manuel Francisco dos Santos, ou simplesmente Garrincha, completaria seus 77 anos. Não só para o Botafogo ele foi importante. Os brasileiros nunca se esquecerão do garoto, que se preocupava pura e simplesmente em brincar dentro de campo.
Seus inúmeros títulos com o Botafogo e Seleção Brasileira, juntamente com seu grande carisma e humildade, lhe renderam vários apelidos como "O Anjo das Pernas Tortas", "Mené", "A Alegria do Povo" e tantos outros.
A crônica a seguir foi feita por Carlos Drummond de Andrade e publicada no Jornal do Brasil no dia 21 de janeiro de 1983, pouco depois da morte do ídolo. O Brasil vivendo o final de uma Ditadura Militar e com a Seleção Brasileira tendo perdido de forma dolorida a Copa do Mundo de 1982, juntou-se toda a "dor" em uma crônica só. Ela foi intitulada "Mané e o sonho". Eis o texto:

"A necessidade brasileira de esquecer os problemas agudos do país, difíceis de encarrar, ou pelo menos de suavizá-los com uma cota de despreocupação e alegria, fez com que o futebol se tornasse a felicidade do povo. Pobres e ricos param de pensar para se encantar com ele. E os grandes jogadores convertem-se numa espécie de irmãos da gente, que detestamos ou amamos na medida em que nos frustram ou nos proporcionam um prazer de um espetáculo de 90 minutos, prolongado indefinidamente nas conversas e mesmo na solidão da lembrança.
Mané Garrincha foi um desses ídolos providenciais com que o acaso veio ao encontro das massas populares e até dos figurões responsáveis periódicos pela sorte do Brasil, ofertando-lhes o jogador que contrariava todos os princípios sacramentais do jogo, e que no entando alcançava os mais deliciosos resultados. Não seria mesmo uma indicação de que o país, desesperado para o destino glorioso que ambicionamos, também conseguia vencer suas limitações e deficiências e chegar ao ponto de grandeza que nos daria individualmente o maior orgulho, pela extinção de antigos complexos nacionais? Interrogação que certamente não aflorava ao nível da consciência, mas que podia muito bem instalar-se no subterrâneo do espírito de cada patrício inquieto e insatisfeito consigo mesmo, e mais ainda com o geral da vida.
Garrincha, em sua irresponsabilidade amável, poderia, quem sabe?, fornecer-nos a chave de um segredo de que era possuidor e que ele mesmo não decifrava, inocente que era da origem do poder mágico de seus músculos e pés. Divertido, espontâneo, inconsequente, com uma inocência que não excluía espertezas institivas de Macunaíma - nenhum modelo seria mais adequado do que esse, para seduzir o povo que, olhando em redor, não encontrava os sérios heróis, os santos miraculosos de que necessita no dia-a-dia. A identificação da sociedade com ele fazia-se naturalmente. Garrincha não pedia nada a seus admiradores; não lhes exigia sacrifícios ou esforços mentais para admirá-lo e segui-lo, pois de resto não queria que ninguém o seguisse. Carregava nas costas um peso alegre, dispensando-nos de fazer o mesmo. Sua ambição ou projeto de vida ( se é que, em matéria de Garrincha, se pode falar em projeto ) consistia no papo de botiquim, nos prazeres da cama, de que resultasse o prezer de novos filhos, no descompromisso, afinal, com os valores burgueses da vida.
Não sou dos que acusam os dirigentes do esporte, clubes, autoridades civis e torcedores em geral da ingratidão para com Garrincha. Na própria essência do futebol profissional se instalam a ingratidão e a injustiça. O jogador só vale enquanto joga, e se jogar fino. Não lhe perdoam a hora sem inspiração, a traiçoeira indecisão de um segundo, a influência de problemas pessoais sobre o comportamento na partida. É pago para deslumbrar a arquibancada e a cadeira importante, para nos desanuviar a alma, para nos consolar dos nossos malogros, para encobrir as amarguras da Nação. Ele julga que entrou em campo a fim de defender o seu sustento, mas seu negócio principal será defender milhões de angustiados presentes e ausentes contra seus fantasmas particulares ou coletivos. Garrincha foi um entre muitos desses infelizes, dos quais só se salva um ou outro predestinado, com uma estrela na testa, como Pelé.
A simpatia nacional envolveu Mané em todos os lances de sua vida, por mais desajustaada que fosse, e isso já é alguma coisa que nos livra de ter remorso pelo seu final triste. A criança grande que ele não deixou de ser foi vitimada pelo germe da autodestruição que trazia consigo: faltavam-lhe defesas psicológicas que acudissem ao apelo de amigos e fãs. Garrincha, o encantador, era folha ao vento. Resta a maravilhosa lembrança de suas incríveis habilidades, que farão sempre sorrir quem as recordar. Basta ver um filme dos jogos que ele disputou: sente-se logo como o corpo humano pode ser instrumento das mais graciosas criações no espaço, rápidas como o relâmpago e duradouras na memória. Quem viu Garrincha atuar não pode levar a sério teorias científicas que revêem a parábola inevitável de uma bola e asseguram a vitória - que não acontece.
Se há um deus que regula o futebol, esse deus é sobretudo irônico e farsante, e Garrincha foi um de seus delegados incumbidos de zombar de tudo e de todos, nos estádios. Mas como é também um deus cruel, tirou do estonteante Garrincha a faculdade de perceber sua condição de agente divino. Foi um pobre e pequeno mortal que ajudou um país inteiro a sublimar suas tristezas. O pior é que as tristezas voltam, e não há outro Garrincha disponível. Precisa-se de um novo, que nos alimente o sonho."

Deixo as certas palavras do famoso escritor brasileiro falarem por si só. Mané Garrincha é único e admirado, até mesmo por seus "joãos".
Parabéns Mané!

Saudações alvinegras a todoos ;*

2 comentários:

  1. Todas as homenagens são POUCAS pra descrever e saudar o GRANDE Garrincha!! Garrincha: ídolo não só dos alvinegros e sim do BRASIL!!

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  2. Boa Julinhaaaaa!Baita post feito por vc,tem posts aqui q são sensacionais,como o seu o da Nathália_rj,sensacionais,merece até comentários!
    Garrincha que até copa decidiu enquanto o outro que fez mais de 1000 gols ficou fora machucado e tudo mais,ninguém diz isso,para ver o quanto se distorce coisas.
    Mas Garrincha é o cara e sempre foi e para mim ao lado de Maradona é o Hour Concur disparadíssimo,o resto é o resto!!!de jogadores completos os dois e aí vem Romário e olhe lá!
    Ele que até em pequenos espaços ele arrumava para jogar bola e desequilibrar,que orgulho ao futebol realmente!!
    Parabéns Garrincha e parabéns a vc por um dos melhores posts feitos por vc aqui e olha q acompanho e sempre gosto daqui e acho que até depois desses elogios sinceros vc vai ficar até tímida,mas é verdade hehehehehe
    Beijos Julinha
    Igor
    meu blog: http://igoresportes.blogspot.com/ e Twitter @blogdoigor05 e quem sempre que quiser comentar e participar lá,totalmente a vontade!

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